Curiosidade

Adivinhando-se uma longa viagem, esperava-se que Sacadura Cabral e Gago Coutinho fossem munidos de grande quantidade de bens consumíveis para a enfrentarem. Para grande surpresa, levavam apenas: 4 kg de chocolate simples, 1 kg de bolachas, Garrafa de vinho do porto, 1 lanterna elétrica de mão, Cartuchos da pistola de sinais Very, Ferramentas, Casacos de Sacadura e Gago Coutinho, Bonés de uniforme, Instrumentos e livros de navegação.

E nas duas malas de mão, com peso inferior a 5kg, transportaram os “Luziadas”, edição de 1670, correspondência e o livro da biblioteca de bordo.

A Viagem 

“…Às 7h meto face ao vento e a toda a força do motor. “Alea jacta est”. O motor gira a 1800 rotações e o hidro, apoz uns 15 segundos de corrida, descola sem dificuldade tendo a bordo 220 galões de gasolina e 15 de óleo.
Sobre a terra um ligeiro aguaceiro e um arco-iris completo envolvendo a historica Torre de Belem como n’uma aureola de gloria. O ultimo adeus e voltando suavemente, meto proa ao Bugio sobre o qual passamos ás 7h.5m. Estava iniciada a travessia aérea Lisboa-Rio. Mar plano, vento brando de NNW, nuvens soltas, tudo fasendo prever bom tempo…”

Ecos da Imprensa

Há precisamente 100 anos, levantava voo junto à torre de Belém, o hidroavião pilotado por Sacadura Cabral e Gago Coutinho. Esta dupla, para sempre eternizada, foi comparada à época aos intrépidos exploradores da expansão portuguesa. Os jornais de então deram grande cobertura à iniciativa. Reproduzimos aqui uma página do Diário de Lisboa que dá destaque ao acontecimento.

Salientamos:

“A notícia da partida andava quasi em segredo na boca de muita gente. Os jornais disseram, mas ninguém queria acreditar”

“…agora que as azas de Portugal vôam para o Brasil, como há quatro seculos a caravela do filho do Gigante da Beira… Foi também num dia de Março que Pedro Alvaro Cabral partiu e tambem êle era Cabral, como o aviador que a esta hora vai no seguimento da rota que primeiro levou os portugueses ao Brasil…”

Um ajuntamento vem assistir à partida:

“Vêm mais curiosos, fotografos, jornalistas, oficiais de marinha, gente da profissão – ao todo uma centena de pessoas que desejam contar aos seus netos como foi aquilo da partida de um hidro-avião para o Brasil, há muitos anos, quando o ar começava a ser navegado pelos homens”.

A Viagem

“… Ás 14h.57m. avistamos a ponta norte de Tenerife por estibordo e ás 15h.2m. a Isleta da Gran Canaria pela prôa. A alegria dá-nos apetite e o acontecimento é festejado comendo-se mais duas bolachas e um pau de chocolate!

(…) Ás 15h.30m estamos sobre o Porto artificial de La Luz que vejo cheio de navios… Volto em semicírculo para melhor observar e, vendo a impossibilidade de poisar no porto artificial, corto o motor e desço suavemente preparando para ir assentar na água entre dois navios fundeados à entrada. Alguma mareta e bastante ondulação larga. O hidro apanha a crista de uma ondulação e saltando vae poisar na crista seguinte. Parece que alguma coisa se danificou e, inclinando-me, verifico que se partiram dois dos cabos que ligam as asas áos flutuadores, avaria que não tem grande importância.
Somos cumprimentados por varias entidades oficiaes e visitados pelo medico do porto que nos perguntou… pela carta de saúde!!

Curiosidade 

O avião utilizado na travessia

Tendo em conta a reduzida área de alcance nos aviões da época, Sacadura Cabral escolheu o hidroavião, pois apresentava a vantagem de poder poisar e descolar na água, característica que evitava preparação de aeródromos, dispensava de viagem prévia de reconhecimento e possibilitava a continuação da viagem em caso de uma avaria sobre o oceano, caso esta fosse de fácil reparação.

Embora tenha sido escolhido o motor Rolls-Royce Eagle 350 HP, a versão do Hidroavião Fairey III D, construído na casa Fairey, teria de ser modificado, nomeadamente, na curvatura variável das asas, aumento de superfície alar e da superfície dos flutuadores com o intuito de possibilitar o transporte de uma maior carga de combustível.

A este hidroavião modificado Fairey III D MK.II, ficou designado por Trans-Atlantic Load Carrier. Partindo de Lisboa a 30 de Março de 1922, e fez escala nas Canárias e em Cabo Verde.

“A verba autorizada de 200 contos estava reduzida, (…) a umas £5000, quantia relativamente diminuta e que só permitia a aquisição de um monomotor pois que, além da despesa com a aquisição do hidro, havia a contar com as embalagens, transportes, sobressaltes e combustível” (Cabral, Coutinho. Relatório da Viagem Aérea Lisboa-Rio de Janeiro. 1972. Centro de Estudos de Marinha, Lisboa. P. 37)

A Viagem

“Ás 9h.55m pôe-se o motor em marcha. Depois de o aquecer venho tomar posição junto dos navios amarrados na parte norte do porto e meto a toda a força. O motor obedeceu como um “pur-sang” e o hidro descolou em poucos segundos, ainda dentro do porto artificial. Quando passámos na extremidade do molhe, onde muito publico se tinha juntado, já íamos a mais de 20 metros de altura. 15 minutos depois de largarmos estavamos na bahia do Gando, amarrando á pôpa do “5 de Outubro” que pouco tempo antes tinha fundeado.

Durante a curta viagem não houve descarga de oleo mas notei que o hidro tinha uma acentuada tendência para “cabrar”.

Curiosidade

Estimava-se o arranque para a segunda etapa a 3 de abril. Os jornais desse dia, nomeadamente o «Diário de Lisboa» que aqui reproduzimos, deixam transparecer uma grande ansiedade pela inexistência de comunicação por parte da dupla de aviadores. É curioso como está muitas vezes implícita a incredulidade em relação ao sucesso da travessia:
“O raid ou tentativa de raid ao Rio de Janeiro”
Os jornalistas de variados jornais queixavam-se frequentemente das parcas palavras do capitão Sacadura Cabral:
“é conhecida a parcimonia nas noticias que caracteriza o capitão Sacadura Cabral. Por vontade dele não diziam nem quando chegavam nem quando partiam”
Noutra ocasião, questionam-no diretamente por telegrama:
“Como fizemos a primeira etape”
A resposta do capitão Sacadura não podia ser mais telegráfica…
“Não digo nada”
Parece que transparece aqui um pouco da personalidade do nosso ilustre conterrâneo!

A viagem

5 abril… “Motor em marcha ás 7h.25m e ás 7h.35m, apóz uma corrida regular, o hidro descola com 240 galões de gasolina. Passamos sobre a terra do norte da bahia e, dando a volta, fasemos rumo a S. Vicente. Vento NE de mais de 25 milhas, muito balanço, muita carneirada no mar, ceu limpo mas horisontes curtos e encinzeirados.”

Ecos da Imprensa

Uma opinião pública ansiosa acompanha dia-a-dia, hora a hora, as notícias que vão chegando, ou a sua ausência, da dupla de aviadores na magnífica aventura! Esta ansiedade é partilhada por lusos e, também, brasileiros que, do lado de lá do Atlântico, reclamam notícias da viagem de Sacadura Cabral e Gago Coutinho.
No «Diario de Lisboa» de 5 de abril sai a aguardada notícia de nova etapa:

O primeiro rádio telegrama chegou a Monsanto ás 8,50, e foi passado a bordo do Massilia. Era nestes termos:
«Hidro-avião português partiu de Las Palmas ás 8,30»
No mesmo «Diario de Lisboa», e em resposta ao Aero Club Brasileiro, é aqui noticiado que Sacadura Cabra e Gago Coutinho, e citamos:
“manifestavam a sua confiança no resultado da iniciativa, saudando os seus irmãos de além mar, a quem esperam abraçar em breve” – iam assim alimentando a opinião pública, sedenta de informação…

A Viagem

“Demandamos o canal de S.Vicente. Ás 18h. 10m. no canal.

Dou a volta pelo sul do porto e venho pousar na praia da Matiota ás 18h. 18m. cobrindo assim em 10 horas e 40 minutos, á velocidade média de 79,5 milhas por hora, as 850 que nos separam da bahia do Gando.

No porto tempo esplendido e mar chão, poisando sem novidade. Somos cercados por numerosas embarcações a remos e a vapor, cheias de gente que nos aclama enquanto as sereias e apitos fazem um barulho ensurdecedor.”

Curiosidade

Instrumentos de navegação
Sextante modificado designado Astrolábio de Precisão

Gago Coutinho e Sacadura Cabral desenvolveram um processo inovador para localizarem a posição de uma aeronave no alto-mar, recorrendo à medição dos astros.

No entanto, tiveram que modificar o mesmo para situações em que a linha do horizonte do mar não estivesse visível. Foi adaptado um sistema de horizonte artificial, a partir da aplicação de um nível de bolha de ar e de um espelho auxiliar para refletir a imagem da bolha.

“A primeira condição para se fazer bôa navegação é haver bôa disposição de espirito (…)Tudo deve estar á mão, ocupando lugares apropriados, de modo a não cahir nem se perder, e ser cómoda e facilmente empregado.”

(Cabral, Coutinho. Relatório da Viagem Aérea Lisboa-Rio de Janeiro.
Centro de Estudos de Marinha, Lisboa. P. 50)

Curiosidades

Instrumentos de navegação
Corretor de rumos Coutinho – Sacadura

O conhecimento da direção seguida pelo hidroavião e da sua velocidade, em relação ao ar, não eram suficientes para determinar essa posição com rigor, pois o vento poderia provocar desvios significativos no movimento da aeronave. Gago Coutinho e Sacadura Cabral conceberam um instrumento, o corretor de rumos, que permitia calcular, de uma forma expedita a deriva provocada pelo vento e igualmente determinar qual a orientação a seguir para a direção desejada.

Curiosidades

Boias de fumo

Utilização das boias de fumo como marcas de referência, no caso da inexistência de navios, pequenas ilhas ou rochedos suficientemente visíveis.

“(…) um depósito com fosforeto de cálcio, que se abre antes de a lançar ao mar, afim de que a água, decompondo o fosforeto, produza o gás fosforoso, que se inflama espontaneamente ao contacto com a atmosfera, produzindo um fumo branco, que se vê a alguma distância, e que fica marcando no mar um lugar por cima do qual se passou” (Coutinho, 1922, p. 307).

Para além do fumo branco que provocava durante a combustão, produzia-se também uma chama que permitia a execução da observação noturna

Ecos da Imprensa

O mau tempo tem atrasado a partida de S. Cabral e G. Coutinho do arquipélago de C.V. Amarados desde o dia 5 de Abril em São Vicente, e realizadas as necessárias reparações, aguardam por boas condições para retomar a viagem:

«Segundo um telegrama do comandante Sacadura Cabral, recebido hoje no ministerio da Marinha, o avião está pronto a largar desde as 10 e meia da manhã, não o tendo feito ainda devido ao estado do mar, que não permite a largada com a carga de gazolina para 12 horas de voo.»

A opinião pública lusa segue atentamente a travessia dos navegadores «tem aumentado o interesse pela viagem, vivendo-se uma hora de verdadeira ansiedade, á espera de que o Lusitânia prossiga na sua derrota audaciosa para o continente brasileiro».

Curiosidades

Navios de apoio à viagem: Cruzador República

A Marinha Portuguesa concedeu o apoio naval à realização do raide aéreo, com três navios. O cruzador “República” prestava a assistência no mar, transportando peças, combustível e pessoal especializado sob ordens do Centro de Aviação Marítima, acompanhando-os até ao Brasil.

De Lisboa seguiu diretamente para Cabo Verde, onde fez paragem, seguindo viagem até Fernando de Noronha.

A Viagem

Saída

“A 16 de abril o vento sopra com a mesma violência mas como a 17 abranda um pouco, aproveito a sota para largar. A sahida do plano foi arriscada e difícil. Ás 3h.35m. estamos no ar, dando formidáveis balanços quando passamos em frente da Matióta e apanhamos as rajadas que os montes despejam”.

A Viagem

Chegada

“Meto caminho contornando a ilha mas apesar de um grande resguardo de mais de 5 milhas, o hidro dá quatro formidáveis saltos quando passamos em frente da bahia de S. Pedro, a SW da ilha, porque o vento vem encanado e parece redobrar de intensidade.

Depois de largarmos a ilha de S. Vicente, o vento abrandou um pouco e o mar abonançou mas o balanço continuou. Durante o trajeto o vento variou entre NE e NNE de 10 a 15 milhas de força. Algumas nuvens e horisontes muito curtos.

Ás 5h.15m. avista-se pelo travez, e por cima das nuvens, o pico do fogo e ás 5h.30m. vê-se a terra de S. Tiago começando novamente a sentir-se vento de rajadas. Á cautela dou resguardo mas ao entrar na sombra da ilha encontro bom tempo e mar bonançoso. Ás 5h.50m. poisamos sem novidade em Porto Praia indo amarrar á pôpa do “5 de outubro

A Viagem  

Saída

Ás 4h.30m. da manhã de 18 de Abril começou-se a esgotar a agua dos flutuadores e ás 5h.15m. pôz-se o motor em marcha……

Faço duas corridas sem resultado,…….dou uma terceira corrida, já dentro do porto, e o hidro descola às 5h.55m…..

Ás 6h.10m. perde-se a terra de vista. Começo gastando gasolina dos tanques dos flutuadores e ás 8h., isto é duas horas da partida, vejo com surpresa que estão completamente esgotados não me restando mais que 195 galões de gasolina nos tanques da fuselagem ou seja menos de 10 horas de vôo!!……

A Viagem

Chegada

Confesso que, para mim, foi esse vôo o bocado mais amargo da viagem aérea Lisboa-Rio porque durante nove horas e meia vivi sempre na incerteza de ter ou não gasolina suficiente para chegar ao terminus……

Ás 16h. acaba-se a gasolina dos tanques principais restando apenas os 24 galões contidos no tanque de gravidade, isto é cerca de uma hora e um quarto de vôo……

Ás 17h. avistamos os Penedos e, quasi ao mesmo tempo o “República”….

Faço rumo para o “República” e às 17h. 15m. corto o motor descendo para poisar junto do navio. Não deviamos ter mais de 2 ou 3 litros de gasolina no tanque!! …….uma ondulação maior apanha o flutuador de bombordo, parte-o e leva-o!!………

Vejo que o hidro está perdido mas tenta-se salvar o motor…….o hidro mergulha lentamente e afunda-se…..

Ecos da Imprensa

Neste dia há 100 anos atrás

A rubrica AZAS GLORIOSAS do Diário de Lisboa retoma o entusiasmo contido durante alguns dias:

A caminho do Brasil!

O hidro-avião largou hoje da cidade da Praia

ás 5 h e 50 m (hora local)

Mais uma vez a cobertura jornalística compara este projeto à aventura ímpar dos descobrimentos portugueses do século XVI e a dúvida, que inicialmente assombrava o êxito da travessia, parece totalmente dissipada, vejamos:

“As azas gloriosas do Lusitania levam comsigo, neste minuto supremo de ansiedade nacional, toda a tradição dos gloriosos navegadores que no século XVI se aventuraram a descobrir os caminhos maritimos que ninguem tinha ousado ainda ultrapassar. E é tanta a confiança que nós temos na vitoria final da magnifica aventura, e é tão grande esta fé (…) que ninguém duvida já do êxito que há-de coroar a «etape» final da travessia (…)”

Esta notícia terminava com a previsão de chegada dos heróis lusos pelas 19 horas (de Lisboa) aos rochedos de S. Pedro e S. Paulo.

Na sequência desta grande notícia saem duas outras menores que assinalam: uma, o enorme entusiasmo da comunidade portuguesa no Rio de Janeiro; e a outra, a intenção do governador do Estado da Bahia em receber oficialmente os heróis portugueses.

Ecos da Imprensa

Neste dia há 100 anos atrás

Um revés na magnífica aventura foi noticiado, em títulos garrafais, e esclarecia a confusa opinião pública portuguesa na tarde do dia 19 de abril:

O “LUSITANIA ESTÁ AVARIADO E NÃO PODE SEGUIR VIAGEM!”

Na verdade, a 19 de Abril, festejou-se a chegada dos dois aviadores a Fernando de Noronha: ouvia-se: “Os aviadores chegaram! Os aviadores chegaram!” Alguns navios no Tejo fizeram soar as sereias, sinos a rebate provocaram grande alvoroço na capital. Tudo não passou de um grande equívoco que uma nota oficiosa do ministério da Marinha veio esclarecer e que o Diario de Lisboa reproduziu:

“Por um telegrama recebido do comandante Sacadura o «Luzitania» ao pousar á chegada aos penedos de S. Pedro, sofreu por virtude da ondulação cavada uma avaria no flutuador. Se essa avaria for irreparavel, o ministério da Marinha fará seguir para os penedos de S. Pedro um novo hidro-avião, transportado por um navio de guerra, a fim de poderem ser efectuadas as ultimas «étapes» do «raid».”

Este acidente no percurso foi rapidamente noticiado, assim como a intenção do governo em continuar a patrocinar a concretização da Travessia Aérea do Atlântico Sul. O envio de um novo hidroavião sossegou a população que esperava ansiosamente a conclusão com sucesso desta aventura mediática.

Curiosidades:

Navio de apoio à travessia

O aviso 5 de Outubro

Construído em 1899, segundo os planos de um cruzador inglês na escócia, designou-se “aviso” devido ao facto de se tratar de um navio de guerra de pequenas dimensões e rápido. Interrompeu o seu serviço hidrográfico quando, em 25 de março de 1922, rumou para Las Palmas e posteriormente Cabo Verde como base a dar apoio, embora limitado, de pessoal, material e onde se executaram pequenas reparações para o hidroavião “Lusitânia”. Regressou a Lisboa no dia 5 de Maio de 1922.

IMAGEM (Fonte. Museu da Marinha)

Curiosidades da viagem

Navios de apoio
Canhoneira Bengo

Construída no arsenal da Marinha, em Lisboa, foi lançada à água em 23 de Março de 1917, tratando-se de um navio de patrulha blindado, integrava peças de artilharia de grande calibre. Realizou diversos serviços de fiscalização na costa e quatro missões de soberania em Cabo Verde.

A 25 de Março de 1922, iniciou o acompanhamento da viagem da Travessia do Atlântico Sul nos arquipélagos das Canárias e de Cabo Verde. Prestou auxílio limitado devido a não possuir nenhum escaler de gasolina ou vapor.

IMAGEM (Fonte. Museu da Marinha)

Curiosidade 

“Caderno de Recados”

Duas páginas do famoso “Caderno de Recados” que Sacadura Cabral e Gago Coutinho passavam de um para o outro, devido ao ruído que o motor do hidroavião fazia e que impossibilitava a troca de impressões por voz.

A viagem

Partida

“Ás 8h. 37m. motor em marcha. Tento por duas veses descolar sem o conseguir. Sente-se que o hidro está muito carregado. Como se aproxima um aguaceiro vindo do NE e o vento refresca um pouco, faço uma terceira tentativa, indo para o ar ás 9h. locaes…”

A viagem

Chegada  

“Ás 13h.30m. avisto os Penedos, quasi pela proa e a estibordo, a menos de 15 milhas de distancia, mas pouco depois um aguaceiro continua, resolvo, ás 13h 40m. voltar e faço rumo a Fernando Noronha…

Prepáro para poisar e, como o motor fraqueja por completo, desço com rara felicidade ás 15h.30m.. O hidro tocou na crista de uma vaga e foi poisar sem avarias na crista seguinte. O motor pára. Examinamos o hidro. Não ha avarias e o mar está banseiro. Estendemo-nos sobre os flutuadores trocando impressões. Sentimo-nos á vontade apesar da visinhança de dois tubarões que vêem passar entre os flutuadores. Procuramos pôr o motor em marcha mas não o conseguimos. Julgo que a pane vem da canalisação da gasolina e que algum pedaço de durit ou sugidade está impedindo a passagem do liquido.”