O Pelourinho
O pelourinho era um símbolo jurídico e administrativo, levantado na praça principal da vila. Construído de pedra, era formado por uma escaleira, normalmente circular, com vários degraus e uma coluna encimada por um capitel, muitas vezes rematado por um coruto em pirâmide. Esta semelhança com os marcos mereceu-lhe, também, o nome de picota. Por vezes, sobre o capitel, levanta-se uma gaiola, símbolo de prisão, encimada pela esfera armilar. Alguns pelourinhos apresentam as armas reais.
Celorico da Beira teve a sua picota, tal como outras vilas da Beira. Existia ainda na altura da revolução liberal, como se comprova pela referência que lhe é feita no livro das conferências da Câmara (livro de actas), de 1819-1825. 0 monumento foi destruído em 1871, parece, devido à ignorância e sectarismo de um magistrado. Com o derrube, as pedras desapareceram. Pensamos que o fuste terá sido aproveitado para a construção do cruzeiro, que se encontra junto da estrada, perto da Capela de S. João, mas não temos a certeza.
Com segurança, identificamos somente em 1978, um único elemento: o capitel, que se encontra num jardim da Casa da Senhora D. Maria do Céu Lopes, próximo do castelo. Sendo octagenária e o seu estado de saúde agravado, não tivemos oportunidade de inquirir sobre as condições em que esta peça para ali foi transportada, servindo agora de mesa.
Este capitel é octogonal, impressionando-nos pelas grandes dimensões. Sua largura máxima é de 93 cm; sua altura é de 60 cm. Cada lado do octógono mede entre 34 a 40 cm. Vêem-se nitidamente, no campo superior, os assentos das oito colunatas que formavam o chapéu, ou gaiola. 0 seu diâmetro era de 28 cm. A meio da base há marcas do assento de uma colunata quadrangular.
Ora, a maior parte dos pelourinhos da Beira correspondem ao período manuelino e são exactamente do tipo de gaiola, como é o caso de povoações vizinhas, como Trancoso, Fornos de Algodres, Algodres, Aguiar da Beira, Castelo Mendo, Carapito, Castelo Rodrigo, Muxagata, Pinhel, Alverca da Beira, Aveloso, Moreira de Rei, Cedovim, Marialva, Meda. Neste ultimo só existe o fuste e o capitel da base da gaiola.
Pelo assento das colunatas verifica-se que estes não se estendiam exteriormente, ao longo do capitel, como nos pelourinhos a que nos referimos, mas o de Celorico seria do tipo do da Matança, também no distrito da Guarda. Este último monumento é de gaiola fechada, assente sobre o capitel. Parece-nos que seria assim o de Celorico.
No distrito da Guarda há pelourinhos que não têm gaiola. Uns são formados por várias peças, assentes no capitel, como o de Valhelhas, Ranhados, Foz Côa, Sortelha, Longroiva, outros são constituídos por uma única peça, como o de Açores, Baraçal, restaurado pela Junta de freguesia em 25-12-75, Fornotelheiro, Touça, Alfaiates, Casteiçedo.
Mestre Artur Guimarães pintou centenas de outros pelourinhos, que copiou do real, tendo feito em 1972, na Casa do Infante, no Porto, uma grande exposição. Também pintou uma colecção de pelourinhos para ilustrar carteiras de fósforos.
Pensa-se dever relacionar-se o pelourinho de Celorico da Beira com a reforma manuelina do seu foral, cujo original se guarda mutilado, na Câmara da vila. Esta reforma insere-se na dos forais da Beira, de 1500 a 1520, numa orientação centralizadora do Estado, caracteristica da Idade Moderna. Em vez de estimular a actividade municipal local, os novos forais travavam-na. Por isso são diferentes dos medievos, transformando-se em registos dos encargos e insenções locais. O foral manuelino de Celorico da Beira pode considerar-se da 2. a Fase da reforma. Data de 1 de Julho de 1512, em, que D. Manuel lhe confirma o título de vila.